sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Trabalho apresentado na SEMOC - 2011

“EXÓTICOS”: UMA REPRESENTAÇÃO RACIALIZADA EM SALVADOR

*Alã Santos da Silva

RESUMO: Em linhas gerais este artigo objetiva analisar os discursos e representações raciais que circulam em torno do exótico em Salvador. Uma percepção histórico-social que abordam questões fenotípicas, genéticas e culturais, objetos que estruturados pela colonização, em torno do conceito de raça[1], tornaram-se estruturantes de uma perversa arma de dominação social.

Palavras-chave: Colonialismo; Discurso; Exótico; Racismo; Representações; Salvador.

INTRODUÇÃO

A imagem que temos dos outros povos, ou de nós próprios, está associada à história que nos contaram quando éramos pequenos. Ela marca-nos para o resto da vida.

(Marc Ferro)

Este artigo se dedica ao estudo dos discursos e representações raciais que circulam em torno do exótico em Salvador. Uma construção histórico-social de dominação fundamentada em aspectos fenotípicos, genéticos e culturais que ao longo dos tempos foram incorporadas, reelaboradas, adaptadas e sistematizadas pelos colonizadores através dos seus interesses e práticas. Objetos estruturantes de uma perversa arma social – o racismo – que fraciona e torna impotente os segmentos subalternos.

Abordagens que identificam na estrutura colonial portuguesa alguns instrumentos que sistematizaram as imagens e os discursos com base em um “saber colonial”. Estruturas estruturantes de uma perversa identificação, classificação, legitimação e dominação simbólica dos povos sobre a égide de uma pseudo-superioridade étnica, elementos que serviram e servem para cristalizar as representações e discursos existentes sobre o exótico, dos sujeitos e seus lugares em uma aldeia global.

Desdobramentos que estão divididos em quatro partes: a primeira, apresentando que o modelo de racismo existente no Brasil transcende ao período colonial, sendo fruto de uma longa e perversa construção histórico-social de dominação fundamentada nas diferenciações fenotípicas; a segunda, sinalizando que o racismo adquiriu várias nomenclaturas, discursos e representações baseadas em características fenotípicas, biológicas e culturais; a terceira, uma pequena análise do projeto colonizador como uma estrutura estruturante que utilizou vários campos e instrumento para sistematizar o racismo e suas múltiplas facetas em um processo de dominação com base no exotismo dos povos colonizados; e para finalizar, na quarta parte, identificar que esses objetos, idéias e representações ainda circulam em torno do exótico na cidade.

Enfim, analisar as idéias e representações que circulam em Salvador em torno do exótico. Identificando as estruturas estruturantes da colonização que acabaram por sistematizar e cristalizar as idéias de uma sociedade imagética, onde os negros e mestiços continua sendo vistos como o diferente – o exótico.

O RACISMO E SUAS MULTIPLAS REPRESENTAÇÕES

Raça e um vocabulário polissêmico, ao qual se atribui significados diversos, que variam consoante aos contextos e os autores que o utilizam.

(Patrícia Ferraz)

Durante muito tempo o racismo nas Américas foi analisado com base na escravidão africana e o holocausto judeu. Uma construção elaborada em dois momentos específicos: o primeiro, ainda no século XVI, com base nos aspectos culturais; e o segundo, já no século XIX, reafirmando-se através das teorias raciais, uma suposta superioridade biológica. No entanto as características do racismo existente no Brasil transcendem a essas referências e o apontam para uma longa e perversa construção histórico-social de dominação fundamentada no fenótipo (MOOR, 2007).

Elementos como a cor da pele, o formato do nariz e outras características que serviram e ainda serve para identificar o outro. Análise que nos remete ao continente africano e apontam para homens melanodérmicos[2] como os primeiros do planeta. Homens e mulheres que ao longo dos tempos sofreram transformações tanto biológicas quanto fenotípicas proporcionadas pelos fatores geopolíticos, onde a seleção natural e conseqüentemente a adaptabilidade ao meio ambiente promoveram inúmeras variações a esses sujeitos. Pois:

Os cientistas não têm certeza de qual era a pigmentação desses primeiros Homo Sapiens, mais admitem, baseados em considerações geográficas, genéticas e climatológicas, que dificilmente a pigmentação desses humanos pudesse ter sido outra que não a melanodérmica. Argumentam que, nas regiões de grande incidência de raios ultravioletas, a cor fortemente pigmentada serve de proteção contra esses raios, permitindo a síntese da vital vitamina D. (...) As características distintivas das chamadas raças teriam surgido, majoritariamente como resposta adaptativa aos diferentes ambientes aos quais se viram expostos os Homo Sapiens enquanto migravam por todo planeta. Dessa maneira, as populações leucodérmicas – brancos e amarelos – não poderiam ter surgido de outra forma, senão como a variação adaptativa das populações de pele escura (MOORE, 2007).

Segundo esses estudos, as diferenciações humanas ocorreram em detrimento das adaptabilidades adquiridas. Seleções naturais que fizeram dos homens delicicéfálicos (negros) projetassem os brancocéfalicos (brancos) e conseqüentemente os mesocefálicos (amarelos), fruto das miscigenações migratórias.

Transformações que também são visíveis no formato do nariz. Pois originados da região equatorial os seres delicicéfálicos apresentam narinas mais abertos facilitando a entrada do oxigênio que nessas regiões estão próximas à temperatura corpórea, enquanto que os brancocéfalicos originados de regiões como a Europa, de temperaturas mais baixa, apresentam as narinas mais fechado promovendo assim o aquecimento do oxigênio antes de adentrar os pulmões.

Diferenciações que foram utilizadas pelos primeiros seres humanos e futuras sociedades para identificar e demarcar seus territórios. Critérios responsáveis por inúmeros conflitos entre os povos na antiguidade e que se encontram presentes até hoje, com novas formas, categorias e representações fenotípicas, biológicas e culturais. No entanto essa perspectiva vem sendo negada em detrimento de uma visão eurocêntrica a qual não só o tema estudado bem como a história vem sendo montada.

Sendo assim podemos perceber que o modelo de racismo existente no Brasil tem sua origem bem anterior aos quinhentos anos de exploração européia. Em um período onde as populações utilizavam suas características físicas como fronteiras demarcatórias para inúmeras lutas.

RACIALIZAN DO O EXÓTICO

A cultura é como uma lente através da qual o homem vê o mundo. Homens de culturas diferentes usam lentes diversas e, portanto, tem visões desencontradas das coisas.

(Ruth Benedict)

O racismo brasileiro, portanto, pode ser assim entendido como uma grande violência simbólica que surgiu na antiguidade com base nas diferenciações fenotípicas, e se reproduz até os nossos dias envoltos a novas palavras, formas e velhos significados. Vocabulários que se baseiam nas representações físicas, biológicas e culturais conforme o contexto e os autores que os utilizam.

Elementos esses que encontraram nas ciências do século XIX as suas principais armas. Teorias, práticas e costumes que embora visassem o mesmo objeto passaram a ser trabalhado em outro plano – o biológico – questões como a cor da pele, formato do nariz, textura dos cabelos, cor dos olhos e outros aspectos que as nascentes ciências transferiram para as questões genéticas.

Embora o sentido dado à designação de raça por diversos autores possa variar, ele tem subjacente uma postura etnocêntrica (assim como eurocêntrica e nacional), segundo a qual que conduz a análise se encontra numa posição superior, que é a da sua própria raça. Esta está no topo das classificações das raças identificáveis em termos sociais, culturais científicos e estéticos (FERRAZ, 2006. pag. 249).

Diante estas identificações pautadas no conceito biológico de raça e que surgem novas nomenclaturas representativas referentes aos “tipos humanos”. Classificações eurocêntricas que fizeram surgir à figura do exótico, um ser marcado pelas características corporais e culturais que se distanciavam dos padrões inerentes ao povo colonizador. Enquadramentos que absorveu toda uma caracterização, diferenciação e inferiorização étnica dos povos colonizados.

Representações que se desenvolveram em vários campos científicos, fundamentando e reproduzindo inúmeras especificidades dos povos; pretos, brancos e amarelos. Diferenciações que serviram aos interesses da estrutura colonial portuguesa na promoção dos “tipos humanos” e suas hierarquizações. Elementos que avaliavam:

O sistema ósseo, musculares, estado de nutrição, pele, cós dos olhos, cabelos, distribuição de pelos pelo corpo, assimetrias, anomalias e deformações, existências de tatuagem, mutilações étnicas (cabeça, nariz, boca, orelha, lábios superior, lábios inferior, dentes mamas, órgão genitais, mãos, pés), face (forma geral da face, bochechas, olhos nariz, boca, orelhas), tronco mamas (grau de desenvolvimento, grandeza, forma, firmeza, aréola, mamilo), dorso, ombro, abdômen, umbigo, órgãos genitais (pénis, bolsas, clitóris, grandes lábios e pequenos lábios, membros superiores e membros inferiores (FERRAZ, 2006. pag. 140 e 141).

Aspectos somatológicos que se desenvolveram com a nascente ciência antropológica. Uma larga associação da ciência e o campo político, onde as escolas, os museus, trabalhos, coleções de objetos, publicações, exposições, congressos e outros instrumentos promoveram um vasto acervo material e simbólico aos projetos coloniais e seus objetivos.

Se a antropologia esteve a serviço do colonialismo, esse fenômeno não ocorreu em uma fase inicial, mais depois, quando o regime incorporou teses científicas no sentido de justificar a colonização de territórios habitados por populações consideradas carecidas de civilização. O que é possível generalizar relativamente a essa antropologia são as suas temáticas de domínio físicos associadas às teorias raciais do século XIX (FERRAZ, 2006. pag.58).

Embora Portugal não tenha propriamente produzido teorias raciais, os seus cientistas absorvera-a e fizeram circular em suas colônias. Pensamentos que por sua vez acabaram sendo legitimadas pela Igreja Católica e propagadas dentro de uma proposta salvadora aos povos por eles colonizados. Sociedades inferiores que deveriam ser protegidas e civilizadas.

A par do regime político, e reforçando este, actuava a força da Igreja, esta instituição apresentava-se como estando a apoiar a missão civilizadora que coube aos portugueses para educar, proteger e evangelizar os nativos no sentido de estes se tornarem assimilados, e saírem do seu estado de selvageria, para uns, ou de barbárie, para outros (FERRAZ, 2006. pág. 68).

Pensamentos que circulavam em vários campos e acabaram projetando não só a racialização como também o enquadramento e hierarquizações dos povos com base num referencial eurocêntrico. Onde a educação assimilacionista promovida pela estrutura colonial conduziu as sociedades colonizadas em certos hábitos e práticas eurocêntricas.

Questões aparentemente simples, mais que por trás carregou uma simbologia gravíssima - a superioridade e imposição dos grupos dominantes através de seus valores e comportamentos sociais. Hábitos que foram inseridos na educação dos colonizados e se perpetuaram estruturando as fronteiras demarcatórias entre sujeitos superiores e inferiores através de suas características, e aqui em específico as “exóticas”.

Exóticos, portanto, pode ser entendido como mais uma nomenclatura utilizada dentro de um vasto vocabulário colonial para identificar e classificar os sujeitos através de suas características. Uma construção eurocêntrica com bases nas representações físicas e culturais que o longo processo colonial cuidou de racializar.

A COLONIZAÇÃO PORTUGUESA E OS INSTRUMENTOS SISTEMATIZADORES DE UMA REPRESENTAÇÃO EXÓTICA

Os condicionamentos associados a uma classe particular de condições de existência produzem habitus, sistemas de disposições duradouras e transponíveis, estruturas estruturadas dispostas a funcionar como estruturas estruturantes, isto é, como princípios geradores e organizadores de praticas e representações que podem ser objetivamente adaptadas ao seu objetivo.

(P. Bourdieu)

A estrutura colonial portuguesa lançou mão sobre vários objetos para legitimar seu poder. Instrumentos que serviram para construir, sistematizar e consolidar os signos e símbolos que estruturados tornaram-se estruturantes de uma imensa repulsa às características físicas e culturais pertinentes aos povos colonizados. Representações que se expressam nos traços físicos, genéticos e culturais, elementos responsáveis pela identificação de um sujeito exótico e racializado.

Desde o século XVI que os relatos do exótico e das populações exóticas circulam na Europa acompanhadas de gravuras e representações fantásticas. (...) É nesse contexto que se constitui, desde o século XIX, numerosas coleções fotográficas sobre os territórios colonizados que visavam realizar o enquadramento do exótico e permitia uma divulgação dos costumes e características das populações dos impérios nascentes juntos aos habitantes da colônia (DIAS, 1991. Apud. CARVALHO. 2004. pág. 120).

É buscando entender essas sistematizações que vamos analisar o Boletim Cultural da Guiné Portuguesa (1946-1973). Um instrumento oficial do governo que através de textos, filme e fotografias produziu várias imagens e representações dos povos colonizados como seres exóticos – povos inferiores que estavam isolados e passivos aos movimentos da história (guerras, migrações e conquistas) (CARVALHO, 2004. pág. 128).

Esse instrumento, o boletim, produziu inúmeros manuscritos históricos, etnográfico, científicos, artísticos e literários com base em um “saber colonial”. Conhecimentos que se estruturaram através da antropologia, dos museus, filmes e fotografias, ciências, espaços e elementos que foram utilizados na construção representativa de um ser exótico, inferior por natureza.

Se questionarmos se as populações colonizadas eram descriminadas ou não, respondemos que sim, pois a partir do momento em que há forças de poder entre colonizador e colonizado, em que há forças que se opõem, mais um lado é mais forte do que o outro, então pode haver uma relação de descriminação de um ser mais forte sobre um mais fraco, à partida em desvantagem. O grupo dominante, que detém o poder, demonstra tendências etnocêntricas e considera-se ele próprio pertencente a uma raça exemplar. Por seu turno, aos negros principalmente, considerados como raças, é atribuída uma inferioridade inerente.

Questões já idealizadas pelo projeto colonial que lançou mão sobre a então nascente antropologia física para reconhecer através de uma cientificidade as diversidades humanas.

..., na ciência que começava então a afirma-se quer em Portugal, e de resto na Europa, quer nos EUA. (...) O seu objetivo era classificar os povos e estabelecer tipologias raciais e culturais. (...) Os conhecimentos elaborados pelos representantes do meio científico português contribuíram para justificar o exercício de poder e sabedoria sobre elas, assim como para afirmar o seu estatuto de potência civilizadora.

Objetos que a nascente antropologia utilizou para se afirmar como ciência. Elementos que por sua vez interessaram aos projetos coloniais que os utilizaram para hierarquizar as sociedades com base no conceito de raça – a base sistêmica do racismo no século XIX, o científico.

De facto, no esforço para se impor como ciência, a antropologia começou por utilizar, sobretudo elementos humanos físicos. Em varias comunicações vamos encontrar a referencia a autores como Bronca ou Topinard. Nesse processo de investigação e classificação, o nativo é coisificado, visto como algo possível de ser medido e analisado, como vista a avaliar as suas capacidades de resistência e de trabalho, enquanto estudos sobre a sua realidade social e cultural serviam algumas vezes apenas para contextualizar os estudos da antropologia física (FERRAZ, 2006. pág. 80).

Uma efetiva sistematização dos “tipos humanos” e seus costumes. Elementos que foram explorados pela propaganda colonial em diversos congressos antropológicos e suas exposições[3]. Mensurações que promoveram uma grande circulação triangular dessas idéias entre Portugal, Europa e Américas sobre os outros, os exóticos.

Pensamentos essas que acabaram por se materializar em vários museus. Espaços que por sua vez acabou sedimentando os objetos e seus conhecimentos dentro de uma realidade fragmentada, permitindo assim as representações a que se pretende estruturar dentro de uma lógica imperialista dos povos no espaço e tempo histórico.

Imagens que se fundamentaram através das ciências e dentro de um saber colonial. Idéias que se projetaram na literatura, postais ilustrativos, sistemas de ensinos, cinemas, música, pintura e outras formam em que essas temáticas pudessem se propagar e assim perpetuar-se. Mecanismos que projetaram uma verdadeira percepção e localização dos povos nas sociedades.

Percepções ilustradas através de imagens fotográficas, cartazes, desenhos, pinturas, livros e filmes que construídos se perpetuam no tempo e espaço histórico. Instrumentos que evocam o passado e encarceram os indivíduos em um determinado tempo.

Enfim, são diante desses instrumentos e seus espaços que pensamos na estruturação e sistematização de um racismo exótico. Objetos que produziram textos, imagens e até mesmo legados étno-racial que estruturaram as relações de poder social, elemento que acabaram por ofuscar as realidades e perpetuar as idéias acerca do outro, dentro de um caráter científico, pedagógico e político.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O carrasco sempre mata duas vezes, a segunda pelo silêncio.

(Elie Wiesel)

Nas ultimas décadas, os estudos sobre o racismo vêm aumentando em todo o Brasil. Pesquisas que o analisam como uma perversa construção histórico-social de dominação pautada em características físicas, biológicas e culturas, elementos estruturados que se tornaram estruturantes de uma perversa arma social.

Nomenclaturas, representações, discursos e práticas que ao longo dos tempos acabaram por construir uma imensa repulsa a tudo que se referem à cor negra. Elementos que chegam até os nossos dias expressos em palavras como o mercado negro, a ovelha negra, a nuvem negra e outras formas negativas que reelaboradas discriminam uma boa parte da população.

Afinal já parou para pensar por que no Brasil e, principalmente em Salvador, a maior cidade negra fora do Continente Africano e a segunda maior do mundo, perdendo apenas para Lagos, capital da Nigéria, o negro é vistos como o diferente, o exótico. Discursos e representações que nos permitem perceber as fronteiras marcadas pela cor da pele, textura dos cabelos e outros elementos constitutivos de uma identidade negro-mestiça, ou seja, mais um “jeitinho” brasileiro de falar e classificar os sujeitos racialmente.

Interpretações que fazem do termo exótico mais uma nomenclatura sutil usada para identificar, classificar e discriminar os sujeitos que se distanciam de um padrão. Modelos eurocêntricos que a socialização, ou melhor, a educação acabou por cristalizar e reproduzir através dos hábitos e costumes de uma sociedade marcada pelo passado escravocrata.

Elementos que justificam a presença das idéias e representações que foram construídas ao longo dos tempos sobre os povos e suas hierarquizações. Aspectos facilmente identificáveis na classificação dos sujeitos com base em aspectos fenotípicos, genéticos e culturais. Objetos sistêmicos de uma sociedade que se representa pigmentocraticamente.

Observações que no Brasil, e por extensão em Salvador, podem até ser considerados como inexistentes se comparados como os outros elementos raciais vivenciados na América do Norte, Europa e até mesmo África. Contudo, racismo é racismo em qualquer parte do mundo e o que se faz analisá-lo não são seus graus, mais sim, as suas formas e aqui em especial, mais uma, a cordial, que apresentar-se silenciosamente sem chamar a atenção através dos discursos, pensamento, representações e comentários maldosos que ficam nas entrelinhas, “preconceitos leves”, que em muitas das vezes passam despercebidos.

Enfim, elementos que nos permitem perceber que os exóticos em Salvador são fortemente representados e racializados. Pois as suas referências, cor da pele, textura dos cabelos, cor dos olhos e formatos do nariz nada mais é do que um jeitinho soteropolitano de falar, classificar e até mesmo discriminar os sujeitos racialmente.

5. BIBLIOGRAFIA

BOURDIEU, Pierre. O Desencantamento do Mundo: Estruturas Econômicas e Estruturas Temporais. São Paulo: Editora Perspectiva S. A. 1979.

________________. Meditações Pascalianas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.

PRINCE, Sally. Arte Primitiva em Centros Civilizados.

CARVALHO. Clara. O Olhar Colonial: antropologia e fotografia no Centro de Estudos da Guiné Portuguesa. ICS. 2004.

MATOS, Patrícia Ferraz de. As Cores do Império: Representações no Império Colonial Português. Lisboa: ICS. 2006.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Editora Rio de Janeiro: DPIA, 2006.

MOORE, Carlos. Racismo e Sociedade: novas bases epistemológicas para entender o racismo. Belo Horizonte: Mazza edições, 2007.



* Graduado em História pela Universidade Católica do Salvador, aluno especial do mestrado (CEAO – UFBA), professor da Rede Estadual de Ensino e do Curso Revisão. Contato: alalost@hotmail.com

[1] Embora a atual Biologia Humana comprove a inexistência científica de “raça” e a sua inoperacionalidade; esse conceito é utilizado neste trabalho com um sentido social e político. Uma construção sociológica de dominação e exclusão social.

[2] Seres que concentram melanina no corpo e conseqüentemente apresentam a cor da pele mais escura.

[3] Maiores informações ver obras de (FERRAZ, 2006) e (CARVALHO, 2004).